Hoje descobri outro mineiro - Murilo Mendes (1901-1975)um dos principais nomes da segunda geração modernista.Nasceu em Juiz de Fora e cedo foi pro Rio de Janeiro. Seu primeiro livro, Poemas, é de 1930, o mesmo ano de estréia do queridíssimo Drummond , com Alguma Poesia.
E foi por acaso porque nesta minha fase metida a Tarsila , descobri também o pintor carioca Oswaldo Goeldi (1895-1961) e as obras acima.
Murilo escreveu em seu poema-homenagem, publicado em 1959, para o amigo Oswaldo Goeldi
Oswaldo gravas:
A ti mesmo fiel, ao teu ofício,
Gravas a pobreza, o vento, a dissonância,
A rude comunhão dos homens no trabalho.
Gravas o abandonado, o triste, o único,
O peixe que te mira quase humano—
É hora de morrer —
No preto e branco, no vermelho e verde.
Qualquer traço perdido
A casa que espia pelo olho-de-boi
Testemunha de drama anônimo.
Gravas a nuvem, o balaio,
O geleiro e seus estilhaços.
O choque em diagonal de guarda-chuvas,
Tudo o que é rejeitado, elementos marginais,
A metade dum astro que se despe
Amado só do penúltimo vadio.
Oswaldo gravas,
Gravas qualquer solidão.
Os peixeiros que partilham peixe e onda,
Pássaros de solidões de água e mato,
O sinaleiro do temporal próximo,
A barca puxada pela sirga,
O bêbedo e seu solilóquio,
A chuva e seus túneis,
O mergulho em tesoura da gaivota.
És do sol posto, da esquina,
Do Leblon e do uivo da noite.
Não sujeitas o desenho à gravação:
Liberaste as duas forças.
Atingindo agora a unidade,
Pela natureza visionária
E pelo severo ofício
A tortura dominando,
Silêncio e solidão
Oswaldo gravas.
In: MENDES, Murilo. Poesias, 1925/1955. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1959